Hector Babenco, diretor de "Carandiru", leva às telas esse drama de roteiro denso e inesquecível.
Ramini e Sofia formam um casal junto há 12 anos e que agora se separa, trazendo sérios problemas a Ramini por causa das perseguições da ex-mulher. Nem de longe "O Passado" é uma história de ciúme doentio pois seu roteiro é bem mais complexo do que esperamos. O casal é uma personificação de vários outros reais, que estão a nossa volta e passam pelos mesmos problemas, principalmente quando sua história não dura até que a morte os separe.
O personagem principal do filme é o passado. O passado onde Ramini e Sofia viviam casados unidos pelo amor que parecia ser eterno. Depois da separação temos mais dois personagens principais: os dois divorciados. De um lado temos um tradutor viciado em cocaína e que depois de ter se separado da mulher foge de qualquer jeito do passado, ignorando a ex-mulher e as fotos do casamento. Do lado oposto temos ela e suas apelações para que Ramini resolva as situações pendentes e os compromissos que qualquer relacionamento, mesmo que acabado, exige. Sofia vai fazê-lo aprender a lição, custe o que custar.
Podemos definir o filme como feminista tendo em vista que o homem foi personificado como o indiferente e descompromissado com os sentimentos alheios e a obra agradará todas as mulheres, que agora têm sua vingança através da personagem Sofia. Assim, a mulher ensina Ramini por dolorosas lições que não adianta fugir do passado porque ele sempre estará lá e enquanto ele não aprender a conviver com ele, sua vida não continua. Gael García Bernal e Analía Couceyro se saíram muito bem nas interpretações desses papéis complicados que não trazem uma vítima e um vilão. São simplesmente ex-amantes presos no...passado. A personagem de Analía, Sofia, é ainda mais complicada pois não sabemos se ela está maluca ou se está simplesmente sendo forte o bastante para agir contra a indiferença do ex-marido e sua atitude evasiva em relação ao seu relacionamento. O história traz uma crítica a todos que brincam com sentimentos de outros e que mesmo sem se dar conta, destroem suas vidas e o casal do filme é representação de todos esses relacionamentos no qual há um amando e o outro ignorando.
Todas essas mensagens estão escondidas e por isso a história não se torna clichê. A trama deixa pontos que podem ser explorados de uma maneira diferente por cada espectador, um ótimo trabalho do diretor. Muitas cenas trazem metáforas e diálogos que dependem da sua percepção para ser desvendados e tudo isso com uma fotografia muito bem montada e a trilha-sonora de violino que traz uma interessante melancolia às cenas. Como toda a trama, várias cenas e diálogos são secos e "quentes", o que nos faz ficar ainda mais íntimos dos personagens.
Esse filme argentino é extremamente recomendável a todos que querem uma história para pensar e ter mais uma prova de como o cinema é mesmo apaixonante e poderoso.
sábado, 30 de maio de 2009
O Passado
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3 comentários:
[ótimo comentário!
Filme maravilhoso!!
Só não acho nada feminista... pelo contrário!fiquei envergonhada!!não há mulher que não se identifique com alguns dos dramas de Sofia...
Ah, eu quero assistir! Parece ser bom mesmo!
Ah, e Sofia é linda, não sei porque o Ramini deixou de gostar dela...
(mas ainda sim ela me envergonha....)
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