Emad e Rana são casados e precisam sair de seu apartamento por risco de desabamento. Acabam se mudando para o apartamento de um amigo, no qual ainda estão alguns pertences da moradora anterior que se recusa a ir lá pegá-los. Após Rana ser atacada dentro do apartamento por um desconhecido, o casal precisa lidar com esse trauma e desvendar a história por trás desse incidente.
É interessante ressaltar como "O Apartamento" é comparado com "A Separação", outro filme do diretor iraniano Asghar Farhadi. Devo admitir que não lembro de absolutamente nada deste filme, apesar de saber que o assisti há muito tempo, também no cinema. Foi um desses filmes que não deixaram nada comigo, nenhuma marca, lembrança ou afetação. Dessa forma, não posso dizer qual é melhor e quais elementos estão presentes em ambos. O que parece visível é que nas duas obras, é possível ver um duelo de gêneros que vão além de um simples drama familiar.
Quando o filme termina, eu pensei comigo mesmo como o aspecto mais presente na história foi o da honra masculina e como Emad personificou o macho que, apesar de artista e intelectual, não conseguiu resolver a confusão criada levando em conta a opinião da esposa. A forma como Emad lidou com o ataque sofrido pela mulher, principalmente no desfecho da história, demonstra bem como o personagem articulou o ataque não só como sofrimento da mulher, mas também como um acontecimento que está relacionado com a visão da sociedade a respeito de seu casamento. Uma das poucas informações que eles tem a respeito da antiga moradora, que não aparece em momento nenhum (o que é uma genialidade do filme, pois toda a história se desenrola na sua ausência sempre presente), é que ela era "promíscua". Essa informação, dada logo no início do filme, já adianta a importância que o discurso sobre os papéis de gênero tem na história, e de como eles serão trazidos ora explicitamente, ora sutilmente. A culpabilização da vítima feminina, a falta de poder de escolha de Rana e a honra machista são alguns pontos interessantes a se discutir através do longa.
Outro ponto importante é como o casal lidou com o trauma pós-ataque e a quantidade de coisas não-ditas nesse período. A possibilidade de sua esposa ter sido estuprada pairou sobre ambos durante várias cenas sem ser mencionada diretamente, gerando aflição em nós, espectadores. A mesma aflição sofrida pelo personagem que se via diante de algo insuportável e que por isso seria melhor se deixado encoberto.
"O apartamento" é um drama familiar com elementos bastante, como a personagem sem rosto e sem aparição, e que se mostra um prato cheio pra discussões sobre papéis de gênero e como o cinema pode trazer isso à tela de forma inteligente e refinada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário