Versão americana do terror espanhol “REC” é um dos melhores do gênero que vi ultimamente.
Bem, dizer que é um dos melhores terrores que vi ultimamente é fácil porque esse é um dos gêneros que reluto em assistir por causa de péssimas experiências. Mesmo assim, tenho certeza que isso não tira o mérito do filme que agrada também os viciados em adrenalina.
O filme é filmado em primeira pessoa como em “A bruxa de Blair” e “Cloverfield”, outros dois nomes que estão na minha lista de suspenses favoritos. Angela Vidal é uma repórter que junto com seu câmera estão cobrindo o cotidiano de um corpo de bombeiros. Justamente na noite em que faziam a matéria, surge um chamado de um prédio onde moradores disseram ter ouvido gritos de um apartamento onde uma velhinha vivia. Quando descobrem que a tal velha estava com um tipo de raiva que a transformou num zumbi comedor de gente, já era tarde demais: tinham sido isolados dentro do prédio para a doença não se espalhar. É nessa quarentena que tudo ocorre.
No início achei a atuação de Jennifer Carpenter (a repórter) fraca, porém, a cada cena, quando seu pânico vai aumentando, ela consegue passar a perturbação e histeria de estar preso com aberrações carnívoras com muita competência, principalmente nas últimas cenas.
A uso da filmagem em primeira pessoa mostrou-se novamente muito poderosa e ela foi o principal motivo da qualidade do longa. Não ser transportado para o filme é impossível. As cenas finais, quando a iluminação da câmera acaba e são obrigados a usar a visão noturna, fazem qualquer um subir pelas paredes. Quase tanto quanto naquela cena em “O Silêncio dos Inocentes”.
“Quarentena” tem o que quase todo suspense americano tem: o fortão que protege a mocinha, a matança progressiva dos personagens e o uso de efeitos especiais para mostrar sangue e carne. Mesmo assim não deixa de ser bom. Vamos ver agora se os espanhóis são ainda mais assustadores.
domingo, 20 de setembro de 2009
Quarentena
Foi apenas um Sonho
O melhor filme que assisti esse ano.
O reencontro do casal do Titanic não tinha como ser melhor. Kate Winslet e Leonardo DiCaprio encenam nesse filme de Sam Mendes (“Beleza Americana”) um casal que participa de discussões épicas, como em “Quem tem medo de Virginia Woolf?”. April e Frank Weeler vão mudar seu modo de ver a vida em sociedade.
Ela, uma dona de casa com a carreira de atriz frustrada. Ele, um funcionário de uma empresa que odeia seu emprego, adúltero e insatisfeito com o que sua vida se tornou. Qual a diferença entre os dois? Ela vê uma saída, ele acha que aquela vida é normal. O plano dela: largar tudo e se mudar para Paris, onde ela iria sustentá-lo e onde ambos acreditam que seja o único lugar em que podem ser felizes. Ela é a revolucionária que viu o buraco e a falta de esperança e tenta fugir dele. Ele, uma vítima da sociedade que prefere não enxergá-lo e ir levando a vida.
Sam Mendes critica explicitamente o modo de vida americano, que mesmo sendo americano, não deixa de ser o mesmo que a maioria da população mundial sustenta. Um estilo de viver que tem como uma das piores conseqüências a artificialidade das relações. As pessoas deixam de ser quem são, para serem o que possuem. Apesar da história se passar na década de 50, é perfeitamente aplicável à atualidade. Na verdade, acho que é ainda mais aplicável atualmente do que antes. Pessoas sacrificam a vida trabalhando, trabalhando e se esquecem de suas vontades. Ou melhor, há uma vontade que nunca esquecemos: a de consumir. Esse é o desejo que nos move quase na vida toda. Assim, cada vez vamos nos afastando mais um dos outros, deturpando a noção de respeito, afeição e individualidade. A representação do mundo pode ser uma linha de montagem de uma fábrica, onde nós somos as mercadorias. Somos programados para termos metas e seguirmos regras impostas e se não fizermos isso, perdemos o valor nesse emaranhado de pessoas. A vida pode ser mais do que isso, pois quem criou esse sistema foi nós mesmos. É nisso que April acredita e espero que esteja certa.
Todas as cenas desse filme são inesquecíveis e perfeitas e todos os diálogos são inteligentes. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet foram brilhantes. As melhores atuações que vejo há muito tempo. Winslet foi mais ainda mais talentosa aqui do que em “O Leitor”. A trilha sonora, como em “Beleza Americana”, fica na memória por muito tempo e fornece ainda mais emoção para uma das cenas mais magníficas que já vi, na qual há somente April e uma janela. Quem viu sabe do que estou falando.
É impossível descrevê-lo em um texto, pois ele suporta discussões de horas e horas de duração. Simplesmente assista-o. Não o interpretando como um drama sobre brigas de casal, mas sim como um ensaio da situação dos homens em sociedade. Ou você vai se surpreender muito ou vai odiá-lo totalmente.
sábado, 5 de setembro de 2009
Vicky Cristina Barcelona
Mais novo filme de Woody Allen traz grande elenco, porém não é tão brilhante como esperava.
Nessa obra com o estilo clássico do diretor, as personagens principais são Vicky e Cristina, duas amigas que vão à Espanha passar suas férias de verão. Lá conhecem o artista-galã Juan Gonzalo (interpretado por Javier Bardem). De início, somente Vicky mergulha num romance com o espanhol, mas vários rodízios de relações acontecem durante toda a história.
Na primeira cena já me decepcionei com uma ferramenta usada no roteiro: a narração. Não só era feita por um narrador que não faz parte da história como está presente e toda a trama. Woody Allen que preza tanto a personalidade de seus personagens escolheu nessa película apresentá-los através de longas descrições do narrador ao invés de fazê-lo pelas imagens. Nas primeiras cenas escutamos do narrador que Vicky é uma estudante de mestrado sensata e que respeita os relacionamentos sérios. Cristina é a mente aberta que busca algum modo de se expressar, quebrar os valores morais e encontrar um amor que vire sua cabeça. Infelizmente, essas características só foram totalmente visíveis nessa parte. Talvez acharam que somente a narração era o bastante para construir um personagem denso e real. Se não fosse o envolvimento, por exemplo, de Cristina num romance bígamo e bissexual (que mais parece saído de um filme de Almodóvar), não a veria como uma mulher tão audaciosa como a narração apresentou.
O boêmio Juan é o que está envolvido em todas as reviravoltas da história, mas Bardem (assim como todos os atores) teve a cena roubada por Penélope Cruz que interpreta sua ex-esposa difícil de se lidar e extremamente mente aberta, salve os dois eufemismos. A agradável trilha-sonora espanhola e algumas cenas divertidas também somam alguns pontos positivos à trama.
Vicky Cristina Barcelona é um filme sobre escolhas que fazemos, sonhos que alimentamos, e principalmente, sobre a busca pelo amor e pelo o que ele significa. Um romance talvez seja um dos gêneros mais complicados de se trabalhar, pois a história precisa trazer algo de surpreendente para não cair na mesmice cansar o espectador. A trama de Woody Allen até trouxe situações novas, mas nada que fique em sua memória por muito tempo.