Protagonizado pela mestra Meryl Streep, esse é um dos filmes mais inteligentes que já assisti. Juntamente com O Leitor, Dúvida é o melhor filme do Oscar 2009. Enquanto o primeiro afeta mais seu lado emocional, o segundo afeta seu lado racional.
Irmã Aloyisius é uma freira que dirige uma escola católica com mãos-de-ferro quando começa a desconfiar que um pároco está tendo uma "relação imprópria" com um dos alunos e assim faz de tudo para provar que sua impressão está certa. Atuações fantásticas compõem essa obra de arte, principalmente dos três principais: Streep, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams. Cenas e diálogos longos passam toda a responsabilidade para os atores que com muita competência nos involvem nas conversas, como se estivéssemos participando delas.
É fácil comparar o conflito desse filme com a história do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ambos possuem um personagem com uma séria desconfiança sobre outro indivíduo e nos dois casos são fornecidos fracas provas que confirmam a suspeita e no final, não temos uma resposta concreta. Ainda, as duas obras nos obrigam a escolher um lado. Assim fica a pergunta: padre Flynn abusou ou não de Donald Miller?
No meu ponto de vista, Dúvida traz muito mais do que um quebra-cabeça onde há fatos que devem ser usados ou no lado de Irmã Aloyisius ou no lado do padre Flynn, que afirma sempre que sua relação com o garoto é só uma amizade. Acredito que a chave de toda a trama é a personagem da Irmã, que move toda a campanha contra o pároco. Suas suspeitas já começam com fatos longe de serem provas e isso mostra que algo a impeliu a implicar com o padre, mas qual seria? Como uma rígida e conservadora freira, acredito que ela seja a personificação de toda a filosofia de uma das maiores instituições do mundo ocidental: a Igreja Católica. Todos os atos de Irmã Aloyisius convém com o que sua religião prega e portanto, o fato de ela alimentar essa forte desconfiança sobre Flynn também provém dessa fé inabalável. A cena que me fez chegar à essa opinião é aquela em que ela diz: "Eu não tenho compaixão pelo senhor. (...) Sei que você não se arrependeu". Já tendo admitido que ela mesma havia cometido sérios pecados em sua vida, ela afirma que ela tinha se arrependido. Está aí uma das maiores características do cristianismo: culpar a humanidade por aquilo que chamam de "pecado" e fornecer como única escapatória seu arrependimento. A fato de Aloyisius não ter necessitado nenhuma prova antes de apontar o dedo para Flynn e tê-lo obrigado a admitir sua culpa mostra como as regras da Igreja afirmam que todos nós merecemos ser eternos mártires. Não importa o motivo. Do outro lado, temos o pároco com sua filosofia religiosa totalmente oposta, onde a escola precisava se freiras e padres mais amigáveis com os estudantes e que ofereçam a eles mais compaixão e tolerância. Esse é outro ponto que impulsiona a Irmã a tentar de qualquer modo que o padre seja culpado para que assim ele desaparecesse da escola onde ela é diretora, e dessa maneira continuar com seus meios de julgar e punir. No meio dessa luta, há a Irmã James, que acaba ficando desorientada, sem saber se acredita na culpa de Flynn ou não. De um lado é ela chamada de ingênua, e de outro, de bondosa. Munida com uma suposta crença absoluta de que ele era um pedófilo, Aloyisius faz de tudo para obter sua confissão. porém, no final ela percebe que talvez tudo não tenha passado de uma auto-enganação, movida pela sua cega crença em toda em sua moral de julgar as pessoas, provinda da moral cristã. Concluindo, em minha opinião, a história mostra como a religião obriga as pessoas a terem fé em suas regras e se comportarem do modo que ela permite, e com isso, passam a ter a impressão que sua fé é absoluta. Porém, o que todos temos, lá no fundo, são...DÚVIDAS.
sábado, 18 de julho de 2009
Dúvida
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário