Documentário usa recortes biográficos reais e ficcionais para representar o século XX e toda sua efervescência.
Sem seguir a típica e didática linha cronológica dos documentários tradicionais, este, além de dispensar a também típica narração, se revela um experimento totalmente original no que diz respeito a pelo menos a todos os documentários que já assisti. Com uma mescla de música, citações, imagens (vídeos e fotos) de personalidades conhecidas e personagens até então anônimos, temos um excelente retrato do século anterior, incluindo seus grandes pensadores, os dois grandes conflitos mundias, as invenções, a mudança da presença feminina na sociedade e as diversas outras transformações que se sucederam. Qualquer listagem que eu faça sobre os temas abordados pelo longa ficará imcompleta, graças à riqueza de informações contidas no filme.
O jogo de imagens mesclado com as mensagens escritas, durante todo o filme, demonstram como, no cinema, uma boa idéia e criatividade são bem mais importantes que uso de alguns recursos, como efeitos-especiais mais complexos, um roteiro definido ou mesmo uma narração.
A maior genialidade do filme, entretanto, é saber retirar das imagens muitas histórias (reais ou ficcionais) que geralmente passam despercidas. Em muitos momentos, as pessoas que aparecem nas imagens ganham nomes e um breve resumo da sua vida. Histórias essas que ficam perdidas quando vemos documentários, que geralmente se preocupam em mostrar estatísticas ou com grandes nomes, fazendo com que esqueçamos, por exemplo, que aquele operário na linha de produção, cuja imagem é usada para retratar o fordismo, também é um ser humano, como a gente, que teve sua história de vida, com seus amores, suas derrotas e vitórias, seus sorrisos e suas amarguras, e por fim, sua morte. Exatamente como na citação de Christian Boltanski, brilhantemente inserida no filme:
"Numa guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias..."
Um dos problemas da atual sociedade talvez tenha surgido no século retratado, com a invenção do rádio, da eletricidade, e toda a conectivdade e rapidez de informações que trouxeram: pessoas viraram números, bilhões, e nós somente um ser no meio de váris. Falar em milhares de morte aqui, milhões lá, parou de ter tanto efeito sobre nós. É preciso ter uma visão centrada, como Marcello Masagao explicita nesse filme, para perceber que mesmo sendo muitas, as pessoas que pelo mundo passaram foram importantes para ele de alguma maneira, criando-o, inventando-o, modificando-o ou simplesmente vivendo-o. Suas histórias, mesmo enterradas, ainda existem. Em um lugar para qual todos vamos, e eles esperam por nós.